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Os aprendizados do isolamento para a educação

29 abril de 2020

Da Vinci na mídia – A Gazeta, 28 de abril de 2020.

Artigo 1

Mário Broetto, diretor pedagógico do Centro Educacional Leonardo da Vinci

Não poderia imaginar que assim seria, mas neste ano celebramos ironicamente o Dia Mundial da Educação – data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para reafirmar a educação como um direito humano – em meio a um cenário de pandemia que limita o ensino ao formato virtual.

Se por um lado lamento as ausências físicas por saber que a aprendizagem ocorre potencialmente no encontro de pensamentos, na troca de pontos de vista e afetos e até mesmo no acolhimento presencial; por outro, recarrego meu otimismo ao perceber que a realidade do isolamento, por menos ideal e mais dura que se coloque por privar outro direito, o da liberdade, oportuniza de alguma forma trilhar caminhos desafiadores, deixando assim, quem sabe, um legado positivo ao ensino.

Pontuo aqui a óbvia possibilidade de um ensino mais híbrido entre o presencial e o virtual, adotando métodos que foram testados e se mostraram pertinentes parcialmente. Mas não me detenho a ele como o mais relevante, até por acreditar que a hibridação não acontecerá num primeiro momento. Por naturalmente nos dirigirmos a extremos, após a quarentena, tenderemos mais ao presencial para, em seguida, visualizarmos um ponto de equilíbrio produtivo entre ambos.

Assim, prefiro destacar como ganho o maior estímulo à autonomia, característica atitudinal fundamental para o cidadão protagonista no mundo, além do convite à flexibilidade, à empatia e à colaboração, competências pessoais muito bem-vindas nos dias atuais. Não somente os alunos, mas toda a comunidade ao redor das escolas foi convidada a refletir, evoluir em posturas e partir, após a quarentena, para um “novo normal”.

Do isolamento, local da individualidade, mas tendo que abrir mão do próprio querer, percebemo-nos completamente em rede e sem nada podermos fazer sozinhos, seja no nível micro dos afazeres de casa e do cuidado com a família, seja no macro na corrida mundial pela cura da doença e na minimização dos impactos socioeconômicos.

Primando por uma intervenção de qualidade na aprendizagem, e não somente pela artificialidade também necessária do cumprimento da carga horária, dentro de um cenário não ideal, sem tempo para adaptações, acordos e testes prévios, famílias foram convidadas a se reconectarem ainda mais à complexidade da educação. Apesar do ensino acontecer formalmente na escola, comprovadamente tem-se como aliado indispensável para o sucesso o acompanhamento próximo dos pais, que pode vir a se potencializar.

Apesar das expectativas, que esteja longe de mim generalizar, posto que toda generalização é falha. Contudo, acredito que, findo o isolamento, novos aprendizados e também desafios estarão postos e nenhum de nós seremos mais os mesmos.

Não é o momento ainda para prognósticos, pois não passariam de especulações com grande chance de distanciamento da realidade. Porém, visto que cada estudante viveu a sua quarentena em um determinado nível de gerenciamento de emoções e condições de realizar seus estudos, se exacerbará ainda mais a missão da educação, motivo da nossa celebração hoje e sempre: a de trabalhar as individualidades, fugindo da formação de conjuntos de iguais.

Confira a matéria no site de A Gazeta.

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